Hoje, tenho pouco para escrever mas muito para pensar. Contudo deixo para todos os que nos visitam a interpretação da frase que um amigo me transmitiu hoje no Grilo:

"Este café é uma metáfora da vida"

Fotografia:Pedro Duarte

Um dos escritores que mais leio é Mia Couto. Porque na mobilidade das ideias, vou ao longo da leitura, percebendo que as palavras podem ser inventadas.
É assim como guardar letras e mais letras e um dia, usá-las, misturá-las, moldá-las e escrever assim:

"...Avultado nome leva o esquilo que, somando, não chega nem a um quarto de quilo. Recertificado seja seu título: fique o esgrama.
Ao inverso, o hipopótamo. Acertado seria: o hiperpótamo...."

Mia Couto

"...De raspão quase o morcego se empassarava. No escuro-fusco, o mamífero aviador se orienta só de ouvido. Desgraça do morcego, então, era ser morsurdo..."

Mia Couto



Ana Bela

QUANDO


Vem ver-me
quando meu corpo adormecido
sonhar contigo

quando a chuva bater na vidraça

quando sair à rua
e tentar apanhar as gotas
que me fogem por entre os dedos

quando o pôr do sol
deixar uma cama de luz no mar

quando as ondas mansamente
se deitarem na areia

vem ver-me
quando a minha saudade
fizer doer


quando o meu sorriso se apagar


vem

vem ver-me
devagarinho, quando estiver
com pressa
quando…

se quando vieres


se vieres
vem ver-me.

Ana Bela

Está a decorrer no Café Grilo um concurso para os mais pequeninos.Para esse efeito estamos a receber aquelas gracinhas (inteligentes) com que eles nos surpreendem nos momentos mais inesperados.Esteja com atenção, não deixe escapar nada do que eles inventam, escreva e entregue-nos, a melhor será premiada

Aqui está uma das muitas:
"A minha irmã deu dinheiro ao meu sobrinho de 5 anos, para comprar uma pastilha.
Quando voltou disse à mãe:
- Olha mãe!comprei esta e com o troco deram-me estas! "

Será que há momentos de loucura, ou a normalidade do dia a dia foge-nos por vezes em direcção a algo que podemos fazer hoje e amanhã não?
Isto porque em quase 18 anos aconteceram coisas muito engraçadas no Grilo.
Como no dia em que um cliente chega ao balcão com o seu cigarro (no tempo longínquo em que havia cigarros), pede um café e tendo terminado o seu cigarro apaga-o na chávena de uma senhora que a seu lado bebia também o café.(claro que havia cinzeiros)
Tem continuação, são muitos os momentos hilariantes.

"...Tudo isto foi quando aprendi acerca dos grilos, até ter descoberto que afinal estes nobres animais muito mais tinham reservado para me mostrar.

Fiquei há uns dias a saber que se lhes dermos café a beber promovem a inspiração da escrita da prosa a todos os que com eles de perto convivem e, ainda se ao café acrescentarmos um queque, transformam-se em musas inspiradoras para a escrita da poesia.

Afinal, os grilos que tanto grilavam nas memórias da minha infância, quando lhes damos café em vez de alface, encurtam a distância entre uns quantos e a sua escrita e até as crianças e jovens adolescentes são atraídos pelo seu grilar, respondendo-lhe por escrito.

A escrita que para uns está tão longe, para uns, felizmente, encontra-se apenas à distância de um grilo.

Por causa dos grilos, descobri que as crianças de hoje também escrevem e por causa das crianças soube hoje que ainda se vendem grilos, mas a trezentos mil réis, como diria a minha avó que passou pelos escudos como eu vou passando por esta coisa do euro.

Sigam o vosso percurso e encham-nos de páginas escritas com o vosso grilar.

Pena tenho eu de que a minha avó só bebesse chicória!..."

João Pedro Fonseca


Excerto de um texto assinado por João Pedro Fonseca, publicado no nosso livro de Prosa volume IV

Alguns anos atrás pensámos que seria bom ter uma biblioteca no grilo.Como sozinhos não conseguíamos, escrevemos para as editoras e fizemos um apelo aos nossos clientes, no sentido de nos oferecerem um livro que já não quisessem.
Acreditem que chegaram tantos livros, que já não cabem na nossa biblioteca.
Hoje, encaminhamos os mesmos para escolas e mais recentemente ajudamos a preencher a biblioteca da Prisão de Tires da secção feminina.
Tudo isto para dizer que ontem Dia Mundial do Livro mais uma vez tivemos respostas positivas e pudemos, assim oferecer livros a quem nos visitou.
Claro que também as crianças foram contempladas.
Surpreendeu-nos a admiração das pessoas, ao perceberem que não tinham que comprar.Mas não tinham! A partilha é tão bonita.
Uns deram para os outros e os que deram, descobriram também um livro que não tinham lido.
E assim, todos os dias nos cruzamos, todos os dias bebemos um café, todos os dias nos damos e tantas vezes sem percebermos.

Ana Bela

Dia 6 de Maio vamos começar a dar voz à poesia e não só...
Na 1ª sessão, em conjunto, decidiremos quais os poetas que passarão a fazer-nos companhia nestas noites que são de todos.
Por isso, sugiro que traga, o seu poeta favorito ou o poema que escreveu há tanto tempo e guardou na gaveta.
Na diversidade, com certeza sairemos mais ricos.
Por me lembrar da minha gaveta de poemas escondidos, envergonhados, vou agora mesmo, com coragem buscar um....

Eco

Escuto-me
no sussurro sem eco
na brisa que levemente passeio
por entre agulhas dos pinheiros.
Nuvem que mancho o mar
espuma que me deito
na areia da praia
rio que me prolongo
em poesia.

Escuto-me
na penumbra das noites
em que me transformo
enrolada no fogo das palavras

no voo de uma gaivota

Ana Duarte

Conversas do Café Grilo

A ideia de iniciar as Conversas do Café Grilo, deve-se ao pedido de clientes e amigos, autores dos nossos livros, que assim gostariam de prolongar a escrita, a poesia e os afectos...

Surge então o apoio da Junta de Freguesia de Carcavelos, na pessoas da sua Presidente, que amavelmente nos cede o espaço para realizar as sessões todas as PRIMEIRAS QUARTAS-FEIRAS DE CADA MÊS, salvo Agosto que todos precisam de descansar.

A nossa aposta é que este seja o inicio de muitas e longas conversas com todos os poetas que gostamos, com todos os escritores que lemos.
Vamos pois tirar da gaveta os nossos poemas, contos, histórias e em conjunto vamos fazer deste Blog, um Blog a recomendar.
Entretanto Fernando Pessoa, Miguel Torga, António Ramos Rosa, Neruda, Rilke e tantos outros, esperam por todos nas nossas noites onde sonhar é obrigatório, ler e escrever é urgente.