segunda-feira, 11 de maio de 2009

Texto escrito para um amigo que todos os dias nos visitava com a sua esposa portadora de Alzheimer.

"Olá Sol

Sei que é difícil brilhar quando as nuvens cobrem o céu, quando temos vontade de chorar mas temos que rir, quando queremos que nos dêem um beijo, nos façam uma festa sentida sabendo quem somos.
Resta-nos nestes casos, ocupar o imaginário com os restos do passado e com um passinho pequeno viver um dia de cada vez.
Sei que a Beta, depois de me dar um beijo já não sabe quem eu sou, mas o momento em que ela sorri para mim e diz que eu sou boazinha, valem mil estrelas no céu. Não faz mal, amanhã quando voltar, vai novamente dar-me um beijo, sorrir e fazer-me uma festa. São raios de sol que penetram também as minhas nuvens.
Naquele instante ela gosta de mim e isso dá-me vontade para continuar a ir ao encontro do seu sorriso.
Faça como eu, Rei Sol, coma avidamente cada sorriso nem que seja instantâneo, guarde-o no coração e amanhã vai ter mais coragem para continuar a brilhar a ser o Sol Beta, Alfa ou Delta, todos os sois imaginados até que o Mundo Beta acabe. A pessoas como o senhor, o meu muito obrigada. Alguns no seu lugar teriam já empacotado o Mundo Beta numa caixa de cartão em qualquer lar impessoal deste Mundo cruel onde as pessoas não querem rir umas para as outras."


Ana Bela