sexta-feira, 22 de maio de 2009

Não resisto à tentação de transcrever excertos de prosa ou poesia dos nossos livros. Desta vez do Volume III, "reencontros à mesa do café" - Poesia -

gostas de rosas?

sim...gostei um dia.

Diz-me...

Quanto tempo passou
Até já não se venderem rosas?
Até deixares de mas oferecer,
E eu de tas pedir?
Quanto tempo se esgotou
Até perderem significado?
Até o constatarmos?

Era rara uma zanga e ainda assim surgia uma rosa
Para demonstrar que tudo era efémero....e acabou por ser.

Quanto tempo se escoou,
Até te esqueceres de me dar a mão,
Até não me lembrar de te dar a minha?
Abandonei-a perto de ti tantas vezes...

Estavas ausente
Tornei-me ausente.

Quanto tempo percorremos,
Até tudo nos ser indiferente,
Até não se venderem rosas,
Até não possuirmos mãos?

Tornámo-nos imperceptíveis,
impalpáveis, um ao outro...
As rosas ficaram pálidas,
o tempo avançou sobre elas,
Restando somente pó
e pétalas quebradiças.

Lembro-me da rua, lembro-me que era um final de tarde.
Lembro-me de não ter dito nada. Naquele dia soube que caminhávamos para o vazio e calei-me. Estava cansada. Fora mais um dia intenso de trabalho e nesse momento falhou-me a voz. Recostei-me no banco do carro e coloquei os óculos escuros de tal forma tinha a vista cansada. Anoitecia.

Devia ter-to dito. Pelo menos teria tentado.

Raquel Vasconcelos